quinta-feira, 28 de novembro de 2013

FANTASMAS

(Edson Leão)
Eu ...
E o fantasma de Halfeld
Vagamos
Pelo Calçadão à noite
Ignoro seu espectro
Ele desconhece o meu
Nenhum de nós
Cabe mais na cidade
E não há nenhum bar
Onde possamos nos apresentar
Ele se vai na fumaça...
Há algo de podre...
Neblina vendando olhos
Wasteland do Brejo
Teu Tejo amarrotado de fezes
Guardado
Pelos “Cavaleiros da Real Ordem Das Capivaras do Paraibuna”
Em eterna luta
Contra o “Clã das Antas do Nunca Mais”
Sob a escuridão que seus postes projetam
“Seus anúncios luminosos
Que são a vida a mentir”*
Seu centro apodrecido
Mausoléu de caixas
Concretando vidas
Numa noite milenar
Que chora estilhaços
Cristais do império
Retinas
Vitrais
Tamancos proletários da aurora
Candelabros
Comércios falidos
Primaveras de chuva e frio
O suor têxtil de operárias
As árvores que já não estão
Porta-bandeiras e passistas passados
“Roubaram a mulata”´**
De um carnaval submerso em buzinas
E sambas deletados
No êxtase do alzheimer feliz
De seus neurônios encarcerados
Cidade em transe
Meu espírito, em cortes, sorri
Sobrevoo tuas casas
Das quais só restam as almas
Aprisionadas em livros
Na carne da fotografia.
A este esboço de lembrar
Ergo um brinde macabro
Romântico, Gótico, Punk, Metal
Uma taça coagulada de sangue
E um jorro de lágrimas de acrílico
A despencar
Da fachada grotesca dos prédios
Um brinde
Por uma cidade onde não existi
Onde ninguém existiu
Onde ninguém pode ser
Um brinde a uma cidade que acabou!
Para me escutar
Restaram os prédios
Com suas fibras sólidas
Duras e frias
Feitos à imagem e ganância
Da natureza que os gerou...

*Empréstimo de Orestes Barbosa.
**Empréstimo Parangolé Valvulado

SOLIDÃO

(Edson Leão)
 Adão
Olhando o céu
Noites
Antes da costela...
Ninguém com quem comentar
O capítulo da novela...

domingo, 24 de novembro de 2013

PASSAR...

(Edson Leão)
Deixo passar o tempo
Ele é que não me deixa
E sempre me leva algo
E sempre me arrasta um pouco
O tempo move a tarde
Mesmo aquela morna
Em que nem cachorro late
O tempo me bate
Jogando verdades na cara
O tempo é experiência rara
Cada tempo só uma vez
De sua passagem só saudade
Lembranças daquele dia de mar
Daquela chuva, do amor,
Velhas amizades
Viagens, cidades
Festas, miragens
O tempo vai sem bagagem
Tudo o que tem
É a mobília da memória
Entulhando a casa em nós
Com mil bibelôs
Sentimentos grudados
Feito imãs de geladeira
Na carne da alma
Porta-retratos
Segredos amassados
Nas gavetas do passado...
Deixo passar o tempo
Ele é que não me deixa
E sempre me leva algo
E sempre me arrasta um pouco...

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

VALEU JACK!

(Edson Leão)
Valeu Jack!
Por abrir as porteiras desse mundo
Pras cabeças passarem
Valeu Jack!
Por deixar o seu rastro de poeira
Nas estradas do mundo
Valeu Jack!
Por mostrar que era pra dentro
O mergulho mais fundo
Valeu Jack!
Por meditar enquanto o lucro
Ganhava as almas 

E os corpos do mundo
Valeu Jack!
Por espreitar a voz de Deus
Nos labirintos
Das sarjetas do mundo!
Valeu Jack!
Por ser o santo beberrão
Um zen profeta
Iluminando o futuro
Valeu Jack!
Por consumir seu corpo e alma
Até por quem
No fundo te desprezava,
Valeu Jack!
E pra quem não entendeu
Eu só lamento
Pois as respostas
Estão soprando no vento
Valeu Jack!
Valeu Jack!
Valeu Jack!

*Folk Rock rural em agradecimento a Jack Kerouac. Pedindo licença ao amigo de Ou Sim e outras idéias, João Paulo de Oliveira, que transita com bem mais propriedade pelo universo do nosso amigo beat.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

SOBRE HUMANOS E MÁQUINAS

(Edson Leão)
Acordar
Se sentindo mal na foto
Algo meio: retrato três por quatro
Em documento de olho esbugalhado
E cabelo lambido, mal acomodado.
Ter que sair pelo dia assim
Ignorar do elevador
O riso entre dentes
Enquanto fecha a porta
E finge obedecer ao teu comando
Quando sabe que você
Não tem mesmo outra escolha
Senão seguir com ele até o térreo
Para ser humilhantemente exposto
Ao voyerismo
Das câmeras de segurança do prédio.
Cada botão que apertas
Sente em tuas mãos trêmulas
O inferno que levas, clandestino.
Agora é bater o portão
Ganhar a rua
Submisso ao bullyng das buzinas
Sentindo como se todas as coisas vissem
O amarrotado explícito em teu espírito
Como quem dormiu com a roupa de sair
E não teve tempo de trocar de pele e fardo
Como quem expõe em pêlo, o pensamento
Frente à cidade
E seus olhos de impiedade.
Os postes cochicham ao teu passar nas calçadas
As janelas de edifícios “paparazzam” sua alma.
É preciso manter a calma
Não pensar no que os carros comentarão
Em assembléia extraordinária
Nas garagens e estacionamentos
Posto que as máquinas
Tudo sabem
Daquilo que nos vai por dentro
Feitas à nossa imagem
E semelhança
Seres programados
Para tarefas rotineiras
Repetitivas, mecânicas
De existências sem sentido
Sem muito mais que fazer
Do que debruçar-se
Com vista privilegiada
Sobre a comédia e a tragédia
Que encena a existência humana
Criaturas
Destinadas ao descarte
E ao oculto mistério
Sobre o que afinal as aguardará
Após partirem desta
Para algum irremediável
E inoxidável destino
Além dos muros
De um inexorável
Deletério
E faminto
Depósito de ferro velho.

TARDE NO SHOPPING

(Edson Leão)
Bela tarde para ir ao shopping
E eu não tenho nada pra comprar
Mas porque não curtir o fim do mundo?
Dizem que ele anda por lá
E que ele sobe e desce as escadas rolantes
Menino travesso esse fim do mundo
Dizem que ele se esconde embaixo das saias
Cola o rosto nas vitrines
Pra deixar sua cara amassada
Impressa feito digital
É esperto esse fim do mundo
Ganha muito dinheiro
Vendendo quinquilharias
Se esconde em um molho ou outro
E nas latas de refri
Da praça de alimentação
Fura a fila da pipoca
Para ver bem nutrido
Cada filme que ele encena
Tem muita pena
Esse moleque safado
De ver como as pessoas
Não se divertem como ele
Afinal
O fim do mundo deve ser divertido
Já diziam os Punks
Há muitos fins do mundo atrás
É erudito esse safado
Folheia teorias e mais teorias
Que escrevem sobre ele
Sentado confortavelmente
Nas almofadas fofas
Da Livraria Saraiva
Dá raiva ver
A peraltice do bicho
Saltitando de loja em loja
Rindo do marasmo dos passantes
Que não se mancam
Que a única diversão interessante
Que se tem realmente ao ir ao shopping
É assistir
A esse comediante
Brilhante em humor negro
Hilariante em seu nonsense
Inconseqüente e original
Especialista em besteirol
“O Cara!”
Praticamente genial
E ao mesmo tempo discreto
Rindo de todos
Sem que a maioria perceba
Que é ele
O grande espetáculo...

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

VIAJANTE DO TEMPO


(Distopia blues’n’roll)
Pela fumaça do bar
Percebo que estou no passado
Eu acabei de chegar
Me sirva algum drink gelado
“Sim”, eu insisto
“Eu vim do futuro
E lá era um lugar bem seguro
Ninguém mais fuma num bar
A vida é cheia de muros
Ninguém bebe, ninguém transa, nem sonha
Mas também, ninguém vai se frustar
Todo mundo vive cheio da grana
E o passatempo é ir pro shopping gastar
Eu sei, meu papo parece absurdo
Mas não é sempre que escapo ao futuro
E não quero perder um segundo
Que tal um beijo
Ao som da banda no fundo     
Talvez uma transa...
Entenda
Não posso perder um segundo                
Pois de onde eu venho
Ninguém mais faz barulho
Ninguém tem banda
Ninguém toca num bar
Só hologramas projetados na mente
Ninguém beija nem ama
O computador faz gozar
Então por favor
Não deixe esse lapso de tempo passar
Não é sempre que o futuro
Deixa alguém
Equivocadamente
Por um rasgo do tempo
Feito um fugitivo de Alcatraz
Escapar...”
(Edson Leão)

A REDE

(Edson Leão)
A rede tem sido fundamental 
Pra que eu me sinta conectado. 
Armei uma rede no quintal. 
Pink Floyd, Atom Heart Mother, 
Lado A, na vitrola. 
Meu cachorro do lado.
O céu e o bosque do Bairu... 
Nuvens passando... 
Um azul denso, pegando voz de noite. 
As primeiras estrelas. 
Um avião. 
Os sons dos vizinhos não me perturbam. 
Isso é conexão. 
O resto é download. 
Com licença... vou voltar pra lá...

FATOS E FOTOS

(Edson Leão)
Somos todos estranhos
não importa que o ângulo
esconda esse fato
num canto da foto...

EVOLUÇÃO

(Edson Leão)
Já não fico triste no domingo
Virtudes de ficar mais velho?
Mais sábio?
Mais bobo?
Já não lembro dos motores
Dos carros da Fórmula 1
Soando irritantes
Na TV do vizinho
Quando acordava de bode
Ou de ressaca de vinho.
Até gosto das ruas
E do cheiro de frango
Girando no forno
Enquanto finjo ler
As manchetes na banca
Que definitivamente
Não me interessam num domingo.
Mas como é bom comprar o jornal
Levar para casa
E fingir que vou ler
Algo além da legenda das fotos
E dos títulos do caderno B.
Sinto-me irmanado
Com som do pagode
Que vem com a fumaça do churrasco
O bater de copos de cerveja
Por todas as ruas
De qualquer bairro do caminho.
Bebo um gole no almoço
Às vezes durmo
Quase não reclamo do shopping
Fico até feliz
Quando passo por alguém
Com som do rádio de pilha
Torcendo
E o gol é do Vasco
Já não sinto asco
Das videcassetadas
Das piadas sem graça
Da risada do Sílvio
Do Fantástico
Dos filmes de porradaria...
Do domingo
Sendo enfim
O que sempre foi
O bom, velho e quase imutável
Domingo.
Quem diria!
Um passo para a iluminação
Já não me incomoda o domingo
Quanto à segunda...
Bom...
Isso aí já seria
Em termos espirituais
Quase um estado de Buda
Projeto pra outra encarnação
Quando eu já nascer meditando
De cabeça raspada
E olhos apertados
No Tibet ou no Japão...

KOAN

- Mestre como posso atingir a iluminação?
- Já tentou atirar uma pedra na lâmpada?
Cacos e escuridão espalhados pelo templo...

DISCOS

(Edson Leão)
Discos
Ecoando entre as luzes da rua
Discos
Na penumbra
Subversiva dos quartos
Discos
Nos corpos das garotas se abrindo
Discos
Na mão de aprendiz dos meninos
Discos
Tornando todo amor permitido
Discos
Na fumaça
Nos neurônios fundidos
Discos
Na cachaça
Na festa
Na fresta dos sonhos
Discos
Fazendo a vida ter sentido
Discos
Na digital de cada tempo
Discos
Na mobília dos sentimentos
Discos
Pra provar que estivemos aqui
E fizemos o que fizemos
Discos
Pra quando a polícia tentar provar que fomos nós
Sim
Que amamos
Que brigamos
Que quebramos a lei
E o silêncio
Que fizemos a cidade acordar
Discos
Pra acreditar que tudo é possível
Discos
Pra suportar o que não foi
O que não deu
Discos
Pra lembrar que fizemos de tudo
Discos
Pra lembrar
Que esse tudo
Valeu!

SEM ASSUNTO


(Edson Leão)
O poema pede um copo
Uma garrafa
Uma mesa
Um bar
Tudo por puro efeito cenográfico
Não que ele queira beber
Não que ele vá respirar
A atmosfera de fumaça
A luz vaga
E os vultos espalhados
Entre o balcão
As mesas
Os banheiros
O poema nada tem a ver com nenhum deles
Mas paga bem pelos seus figurantes
O poema pede sentimentos
Uma densa cadeia eletromagnética
De amores, de fonemas passionais dilacerados
Atirados contra o espelho
Como copos esfacelados no tempo
Metáforas ásperas
Como cacos de garrafa
Apontados para os pulsos
Ou para o rosto de um rival
O poema pede um piano
“As time goes by” dedilhada ou algo igual
Preferiria talvez um Tom Waits
Mas o poema tem trilha própria
E ela se quer pop
Porém arquetípica
Notas que toquem o inconsciente
No mais coletivo de suas equações
O poema quer abalar corações
E eles hoje já estão tão saturados
Que é melhor remeter ao passado
O poema bebe um drink gelado
Movimenta com o dedo os cubos
O poema viu isso num filme
O poema já assistiu filmes mudos
Musicais
Comédias românticas
E até baseados em fatos reais
O poema viu coisas demais
A tal ponto
Que não sabe o que ver
Ou o que dizer
Mas o poema sabe
Que precisa dizer
E bem rápido
Pois mais um pouco e a página acaba
O poema sabe
Que o que importa
É convencer a quem paga
E assim ele insiste em dizer
E em sentir
O ser dor, o fingidor que deveras mente
O poema está quase emocionado
É quando então ela chega
Usando um vestido vermelho
O poema a enxerga do espelho
Treme e derruba o copo
Se atrapalha
Ela chega e se espalha
Pede pra acender o cigarro
Ele entra no jogo
O poema oferece a ela o fogo
É nesse momento
Que a chama se espalha
E que tudo, por fim, arde em brasa
O papel
O poema
A cena
O cenário...
A produção falhou.
A chama
Ao contrário dos sentimentos
Esqueceu de se dizer cenográfica.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

FOTOGRAFIAS

(Edson Leão)
 Fotos de juventude
Olhos sempre ousados
Atravessam a lente
A tela da foto
O tempo
Como quem desafia o mundo
O destino
Os deuses
As garrafas de cerveja
As mesas de bar
As barricadas do desejo
A solidão das eras
As glaciações
Os amigos mortos
As noites cravejadas de breu
De luzes e artifícios...
A juventude é geneticamente cult
Organicamente ousada
Hormonalmente revolucionária
E por tudo isso
Naturalmente bela
Precisa
Esperta...
Já a maturidade
(ou somente a idade)
Essa, crianças...
É para os fortes
Pero
Sin perder la poesia
jamás...

Para Carlos Drumond de Andrade, Mário Quintana, Bob Dylan, Lou Reed, Oscar Nyemeyer, Mick Jagger, Keith Richards, Tom Zé e outros que lhe vierem a cabeça e que não morreram cedo demais para enfrentar as provas do tempo...

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

BOI LARANJA

(EDSON LEÃO)
Montado na Mulinha
Mágica cavalgadura de pano
Conduzo o Boi Laranja*
Sobre o negrume do ribeirão do Grama
Pela trama da noite do tempo
Ouvindo o murmurar das águas
Palavras dos que se foram
E dos que virão
Pois que creio na eternidade
No profano sagrado que habita o verso
Portal por onde escoa
Esse não desvendar de nada
Mas que acalma em mim
A sede de infinito
Cavalgo a solidão de um rio
Esse desenrolar de encontros
De chegadas e partidas
Passando como a Procissão da Paixão
Vista pelos olhos assustados de um menino
Ao ver nas chagas e no sangue de um Deus
Com quanta dor e terror se constrói um mundo
E no fundo de um quintal do tempo
Navegar o riso de festas pretéritas
E as gargalhadas de brindes futuros
Pois que à poesia tudo é transitório e perpétuo
Tudo que escoa, aqui está
Como a lembrança do meu avô na venda
Ou ouvindo na escuridão da casa, o rádio
Ou meu pai tocando seu pandeiro e rindo
E eu sumindo no meio de tudo
Para somente me tornar canção
Um leve fio de voz
Que se perde na imensidão do espaço
Como as velas da procissão passando
E conduzindo o Nosso Senhor dos Passos...

*Mulinha e Boi Laranja - Manifestações folclóricas similares ao Bumba Meu Boi (creio eu) da cidade dos meus avós, Santo Antônio do Grama. Na minha infância quem cuidava do Boi Laranja e da Mulinha era meu Tio, Vicente Leão, e a Mulinha e o Boi ficavam guardados durante o ano, na casa do meu avô que tinha uma daquelas vendas antigas (tipo cenário do programa do Rolando Boldrin). Ver aquelas figuras inanimadas esperando ganhar vida, me passava um quê de mistério insondável , como a dúvida sobre o que haveria depois da escuridão do ribeirão à noite, ou sobre o lamento da multidão conduzindo o corpo martirizado do Senhor dos Passos... mistérios que talvez ainda persistam em algum ponto do meu espírito, lançando ainda angustiantes perguntas sobre a transitoriedade e eternidade da condição humana, “a dor e a delícia de ser o que é”...

POESIA E AUTOAJUDA

(Edson Leão)
Cada poema lido
Te fará
Virar uma página na vida
Nem que seja só
Aquela do livro
Que acaba de ser digerida

GAVETAS E QUINTAIS*

(Edson Leão)
Abra alguma gaveta
Aquela que esteve trancada
Entre milhares de teias
No quarto da tua cabeça
Seja você quem você for
Tire de lá um desejo
Aquele que foi recusado
Como um último desejo
De um sonho a ser fuzilado
Quebre as janelas
E pule pro lado da vida
Onde o sol queima as ruas
E tudo pode ser improvisado
Corra no asfalto entre os carros
Dance com a multidão
Seja o príncipe dos mendigos
A rainha louca dos párias
Um girassol que devora a lua
Ao som de um crepúsculo nu
Nada importa mais
Depois de abrir as gavetas
E queimar as páginas dos jornais
Você está pronto, ou pronta
Seja você quem você for
Pra não ser um a mais
Pra se juntar aos que quebram
A tela da foto na parede
E as grades que nos tornam banais
O próximo alvo serão as cercas
Aquelas “que separam quintais”...


* Esse texto estava abandonado num canto do computador com um princípio de cifragem, o que me leva a crer que ele tinha ao menos uma parte de melodia rsrsrs. Não me lembro mais e acho que o texto estava inacabado pois haviam uns pontilhados e outras indicações de que eu não tinha concluído o trabalho. Na preguiça de tentar reencontrar o fio das ideias inconclusas e convencido pela minha namorada de que ele talvez já estivesse pronto, segue aí rsrs. Talvez um dia eu encontre a gravação com a melodia em algum lugar e ele volte a ser canção. Por hora fica poema. Obs.: Revisado (ou quase) ao som do álbum do Guilherme Arantes de 1976, postado anteriormente, se é que isso tem alguma coisa a ver rsrsrsrs. Curiosamente terminei a quase revisão, ao som da última faixa "Não fique estática"...

THAT'S ENTERTAINMENT

(Edson Leão)
Bruce Wayne e Bono Vox
Numa festa regada a whisky
Nos salões da mansão Playboy
Fazem planos
Sobre como combater
O crime e a miséria no mundo
Enquanto um líder comunitário
É assassinado
Na porta de uma casa humilde
Por importunar poderosos
Combatendo o trabalho escravo.
Homer Simpson
Rola de rir
Babando cerveja
Em frente à TV
“O Jornal Nacional
Cinicamente lhe deseja
Uma boa noite!”
Enquanto isso
Numa passeata
Do universo Marvel
Reprimida violentamente
Por um batalhão de super-heróis
Cartazes e palavras de ordem incitam:
“ - Ei Capitão América
Deixa de ser otário!
Você aí mascarado
Também é explorado!”
Um “baderneiro”
Com mascara de black bloc
É covardemente espancado
Por pichar no carro da polícia
A frase “É proibido proibir”
Alguns acreditam se tratar de Caetano
Mas correspondentes Ninja
Que tiveram seus celulares apreendidos
Afirmam que era Lobão disfarçado
Tentando incriminar a Tropicália
Detido e conduzido à delegacia
Seu corpo ainda não foi encontrado.
Sherazade conta mais um conto
Dos contos das “mileuma”
Onde recrimina todos esses vândalos
“ Comunistasmultisexuaispervertidosateus”
Enquanto a passeta invade a casa do BBB
Tomando reféns e câmeras.
Slavoj Žižek e Zygmunt Bauman
Se encontram na saída do cinema
Depois de assistir ao blockbuster
Filmado em Hollywood sobre os fatos
Eles têm sérias discordâncias
Sobre qual combinado do McDonalds
Será mais indicado pedir
Enquanto analisam a anatomia
Das adolescentes multiculturais
Da praça de alimentação do shopping
Eu por mim
“Panamericanamente”, paro por aqui
Por não ter nada concreto a dizer
Nem mais cara de pau para tentar te entreter
Deixo isso para quem é profissional
Seja para o bem ou para o mal
Encerro aqui meu jornalismo ficcional
Ou quase...

AUTOAJUDA II

(Edson Leão)
  Tem gente que diz
Que você “se acha!”
Outros que dizem
Que “não se enxerga!”
Tudo questão de ângulo:
Quem pode te enxergar é o outro!
Quem pode “se achar” é você!
Na dúvida
Por hora
Apenas me procuro.

VICIOUS

(Edson Leão)
EM TEMPOS DE RITALINA
E DO VÍCIO DA OBEDIÊNCIA
SAUDADES DA RITA LEE
E DOS VÍCIOS DA DESOBEDIÊNCIA

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

DIVINA COMÉDIA



(Edson Leão)
Não sou Erza Pound
Não domino chinês
Então aceito traduções:
“O céu e a terra não são humanos
Não têm qualquer piedade
Para eles milhares de criaturas
São como cães de palha
Que serão destruídos no sacrifício”*
Tomado de esquizofrenia
O mercado
Como um Napoleão de hospício
Julga ser “o céu e a terra”
Sob os auspícios da razão
Ou pelo menos
Do fim da história.
Do lado de lá do balcão
A atendente da empresa de telefonia
À beira de um ataque de nervos.
Do lado de cá
Bruce Banner se contorce
Mudando o tom da pele
E começando a rasgar suas vestes.
Em algum ponto do planeta
Um acionista de corporação
Toma pílulas pra ansiedade
Depois do diagnóstico de câncer.
Em algum plano do universo
Dante Alighieri invoca a musa
Prestes a escrever o décimo círculo...
*Lao Tsé, traduzido e adaptado por Murillo Nunes de Azevedo.

NEM POEMA

(Edson Leão)
Olho a rua
Os postes deixam manchas de luz nas poças
Meninas passam rindo
Seus vestidos não sentem frio
O mendigo
Dança na rua
Movimentos sem alegria
E eu não tenho nada
Nenhuma razão pra estar aqui
Nenhuma canção pra escrever
Posso pegar um táxi
Posso beber um chopp
Mas não tenho nada
Nem prazer, nem dor
Posso explodir prédios
Pichar paredes
Mas não tenho nada
Nem vontade nem dor
Não há porque saltar de pontes
Não há porque matar ninguém
Tenho um movimento inútil
Pés que seguem sem mim
Olhos que filmam a cidade
Como um Ninja
Sem motivos pra gritar
Voz que é só silêncio
Sem palavras
E esse poema estúpido
Que não disse ao que veio
Aparecendo no meio desse filme
Sem enredo
Sem imagens
Apenas um letreiro passando
Sem ninguém para creditar
Sem ninguém para acreditar
Nas mentiras que não quero contar
Mentir pra que?
Pra parecer esperto
Inteligente
Sensível?
Pra que
Pra quem?
São só as poças refletindo a noite
Os vestidos sem frio das meninas
O mendigo e sua dança triste
O taxista que já foi embora
E eu aqui
Sem papel nesse filme
Sem roteiro
Sem texto
Nem poema.
(Edson Leão)

SOLICITAÇÃO

Por gentileza
Abram as portas dos templos
Para que o sagrado
possa habitar o mundo...
(Edson Leão... ou não...)

SÃO

(Edson Leão)
Estrada de terra
Sombra de árvores
Pés descalços em silêncio
Porque tanto barulho em torno de Deus?
Pássaros e mata
Não pregam
São...

sábado, 31 de agosto de 2013

IGREJA OPCIONAL CIRCULAR DO CAMINHO DO MEIO

(Edson Leão)
 Não vou posar de ateu
Pois sei que na hora do assalto
Da turbulência no voo
Ou da mesa de cirurgia
Me borrando em pleno cagaço
Vou largar de lado esse verso palhaço
E vou caçar em algum canto
Um nome pra chamar de Deus
No entanto
Nem por isso
Me autorizo
A crucificar irmão ou irmã
Por atos, alegrias, dores e prazeres
Cujo desejo, necessidade, vontade
Não cabe a mim pesar calcular rotular julgar
Que seja assim pelos tempos e não-tempos até o fim
Além...

AUTO AJUDA

(Edson Leão)
Na dúvida
sobre se errou o caminho
Antes de tentar
o caminho inverso
experimente
refazer o caminho
em versos...


Fonte: Edson Leão, tera(poeta) holístico, pós-graduado em Ciências Ocultas e Letras apagadas. Prevê seu passado, presente e ausente em Búzios, Cabo Frio, Guarapari e Ibitipoca. Sugere que deixe a pessoa amada seguir o próprio caminho mesmo que não coincida com o seu... Sobre ficar rico honestamente sem fazer esforço...

TESTEMUNHO

(Edson Leão)
Bateu a tristeza
Aquele vazio
Aquele quê de abismo
Disseram que era encosto
Então veio o milagre...
Em estado de poesia
Passei a caminhar sobre as mágoas
E a escrever em línguas
Pena que a saliva
Apagava as palavras

O EXORCISTA (O POEMA)

(Edson Leão)
Aquela febre que não passava na infância...
Arrancaram as amídalas.
Toneladas de benzetacil.
Exame de sangue.
Exame de urina.
Filas quilométricas no INPS.
Coisas que a gente não esquece.
Dona Margarida, a benzedeira.
Oferenda na cachoeira.
"- Que tal um exorcista?"
A medicina desconhecia tal doença!
É pena!...
Se examinassem o coração
Alguém esperto concluiria
Com aquele meio riso
Mastigado entre os dentes
De quem inventou a penicilina:
"- Aaaaah!...
O moleque é arrrtissssta!
O seu mal
é a poesia!"

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

DEAD OR ALIVE




(Edson Leão)
Eu
Sou poeta ”porque o mundo quis assim”
Com um pé na bunda ele gritou:
“ - Vai ser gauche,  vagabundo!”
Sem competência emocional para o brega
Sem a convicção hipócrita de quem prega
Sem o toque de rebeldia estudada
Para o rock
Sem ser perverso o bastante para ocupar altos cargos
Sem neurônios resistentes
Pra ter permanecido em Woodstock
Resta a este moleque, que nunca foi bom no bodoque
Escrever verso
Para que alguém goste, ou não goste
Ou para que alguém pregue num poste
Junto com foto e aviso
“Procura-se este malandro
Que tem a poesia por vício!”