sábado, 31 de agosto de 2013

IGREJA OPCIONAL CIRCULAR DO CAMINHO DO MEIO

(Edson Leão)
 Não vou posar de ateu
Pois sei que na hora do assalto
Da turbulência no voo
Ou da mesa de cirurgia
Me borrando em pleno cagaço
Vou largar de lado esse verso palhaço
E vou caçar em algum canto
Um nome pra chamar de Deus
No entanto
Nem por isso
Me autorizo
A crucificar irmão ou irmã
Por atos, alegrias, dores e prazeres
Cujo desejo, necessidade, vontade
Não cabe a mim pesar calcular rotular julgar
Que seja assim pelos tempos e não-tempos até o fim
Além...

AUTO AJUDA

(Edson Leão)
Na dúvida
sobre se errou o caminho
Antes de tentar
o caminho inverso
experimente
refazer o caminho
em versos...


Fonte: Edson Leão, tera(poeta) holístico, pós-graduado em Ciências Ocultas e Letras apagadas. Prevê seu passado, presente e ausente em Búzios, Cabo Frio, Guarapari e Ibitipoca. Sugere que deixe a pessoa amada seguir o próprio caminho mesmo que não coincida com o seu... Sobre ficar rico honestamente sem fazer esforço...

TESTEMUNHO

(Edson Leão)
Bateu a tristeza
Aquele vazio
Aquele quê de abismo
Disseram que era encosto
Então veio o milagre...
Em estado de poesia
Passei a caminhar sobre as mágoas
E a escrever em línguas
Pena que a saliva
Apagava as palavras

O EXORCISTA (O POEMA)

(Edson Leão)
Aquela febre que não passava na infância...
Arrancaram as amídalas.
Toneladas de benzetacil.
Exame de sangue.
Exame de urina.
Filas quilométricas no INPS.
Coisas que a gente não esquece.
Dona Margarida, a benzedeira.
Oferenda na cachoeira.
"- Que tal um exorcista?"
A medicina desconhecia tal doença!
É pena!...
Se examinassem o coração
Alguém esperto concluiria
Com aquele meio riso
Mastigado entre os dentes
De quem inventou a penicilina:
"- Aaaaah!...
O moleque é arrrtissssta!
O seu mal
é a poesia!"

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

DEAD OR ALIVE




(Edson Leão)
Eu
Sou poeta ”porque o mundo quis assim”
Com um pé na bunda ele gritou:
“ - Vai ser gauche,  vagabundo!”
Sem competência emocional para o brega
Sem a convicção hipócrita de quem prega
Sem o toque de rebeldia estudada
Para o rock
Sem ser perverso o bastante para ocupar altos cargos
Sem neurônios resistentes
Pra ter permanecido em Woodstock
Resta a este moleque, que nunca foi bom no bodoque
Escrever verso
Para que alguém goste, ou não goste
Ou para que alguém pregue num poste
Junto com foto e aviso
“Procura-se este malandro
Que tem a poesia por vício!”

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

O FUNDO E O RASO (quase um conto Zen)

(Edson Leão)
Na pressa
Do ponto de ônibus nosso
Lotado de cada dia
Esbarro num conhecido
Que como outros
Esteve na mesma viagem
Aquela que chamamos juventude
Aquela que vestimos rebeldia
E ele
Um professor de atitude
- “Desses que foi fundo demais”
Alguém diria
- “Daqueles que passou dos limites”
Outro condenaria
- “Dos que ultrapassaram os umbrais”
Outro se benzeria
Outsider
Easy rider
Nas trincheiras dos lupem guerrilheiros auto-exilados
Ou limados
Acossados
Passou por mim como um vulto
E estendeu a mão
Cumprimentou
Sorriu e partiu
Como quem não quisesse durar
Não mais que um gesto
Nem mesmo na retina do sol
Da manhã invernal da avenida
Seguiu como quem mira um alvo
Como quem vira um ponto
A escorregar entre carro
Calçada, prédio e gente
Quase um do rebanho
Quase...
Só um lance de dados
Um I Ching do acaso
Me lançando um Koan
Um nonsense
Um David Lynch não filmado
Que minha mente
Viciada em explicar
Deduzir
Dissecar
Cristalizar
Num insight
Devolveu em razão
E era eu entre tanta gente
Esperando um ônibus que não vem
Que não vai
Que não leva a lugar nenhum
E pensando
Se foi ele quem foi fundo demais
Ou todos nós
Que aceitamos nos afogar no tão raso...?

CRIANÇA ESPERANÇA

(Edson Leão)
Havia um menino triste
E como era difícil
Fazê-lo sorrir!...
Me vesti de palhaço
Banquei o cantor de rock
Apresentei garotas legais
Amigos divertidos
Bebidas, festas
Os melhores livros
Pilhas e pilhas de discos
Levei pra Ibitipoca
Pra um réveillon na praia
Pra um bloco de carnaval
Pra uma passeata
Pra ver os Irmãos Marx
Pra uma festa punk
Pra um show do Luiz Tatit
Pra algum país distante
Pra shows de strip tease
Espetáculos do Echo and Bunnymen
Pra rezar pra que Deus nos livre
Dark Side com Roger Watters
Pra rezar pra que Deus nos ame
Pra um filme do Jacques Tatit
The Doors com Ian Astburry
Pra tentar escalar alguns muros
Pra tentar derrubar outdoors
De político em campanha eleitoral
Com amigos cambaleando de bêbados
Na noite da Avenida Marginal
Disfarçando até a Rotam chegar...
Pra um filme do Woody Allen
Radiohead e Kraftwerk
Pra um show do Gil na cidade
Pra cantar em coro “O Luar”
Pra ouvir “Acabou Chorare”
Pra ver a cor da paisagem
Quando a manhã despertar
Num ano qualquer de abril
Pra lembrar que viu Beto Guedes cantando
“Só devia ser primavera
Nas esquinas, pelos quintais”
Pra entoar mantras pela paz
Pra ouvir rocks nos quintais
E Lô Borges, em mono
Cantando “Equatorial”
A Rádio Fluminense no teto
Meditação transcendental
Juiz de Fora
Desmadrugando em deserto
Tai Chi Chuan
Yoga e pão integral
Mel em lábios de deusas
Som Imaginário
Cantando lá no Nepal
Pra ouvir na avenida elétrica
Aquela escola dizer
Que “a Juventude tem um tarol”
Pra cantar “Odeio Você”
No “CÊ” do Caetano no Circo
Pra compor canções
Pra escrever poemas
Pra inventar paixões
Pra inventar paixões...
Pra inventar paixões...

Ele se anima…
Faz que quer sorrir
Faz que vai dançar
Mas de repente para...
Olha em volta
O mundo...
Reflete...
Olha bem pro fundo
Lá dentro
Onde ninguém enxerga
Onde tudo
É senti(pensa)mento
E fica triste outra vez...

Mas não desanimo
Faço qualquer marmota
Invento um novo mimo
Uma piada torta
Uma careta
Uma cambalhota
Pra tentar a animar o menino
Esse destino franzino
Que insiste habitar em mim...
(Edson Leão)


VIDE BULA

(Edson Leão)
Te disseram
pra ser a parte forte
Te disseram
que homem não chora
Pra isso inventaram o samba e o blues
pra quando a certeza vai embora
(se é que algum dia ela esteve...)
Se não bastar
tente um rock
ou deixe uma lágrima rollar
mas não mais que uma!
Se ainda assim não bastar
vá jogar bola!
Ah!...
foi mal...
Me esqueci
que nunca teve vocação nem pra gandula
Então não tem outro remédio
Ligue aquele Nelson Gonçalves
em doses cavalares como manda a bula.
(Edson Leão)

LUPICÍNIO E MAIS UM TRAGO (SAMBA-SALSA-CANÇÃO)



(Edson Leão)
Tropeço nos pés da valsa
Como um bêbado em plena salsa
E a vida ri de mim
Do cálculo com que me estrago
É Lupicínio e mais um trago
O que trago no peito
É um engasgo
Batucado num samba canção
E assim se faz uma nação
Ou um bloco
Rindo e chorando
No contratempo
Ou num copo
Batidas na porta da vida
É o vento
Queimando tudo por dentro
Vinho forte
Levando tudo o que pode
Pela noite
Como se leves folhas secas
A gente fosse...

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

PRA QUÊ ARTE?

(Edson Leão)
A gente faz arte
Como parte de um plano
Pra não enlouquecer na cidade
Idade média
(Midio)cridade...
Por caridade
Por claridade
A gente faz arte
Pra ajudar
A acordar a cidade
De um sono
Que já vai bem tarde
Desperta(dor)
Desperta(sabor)
Desperta(vida)
Bom dia cidade!
E viva teu gozo
E tuas feridas...
* Dedicado aos insistentes guerrilheiros da cultura, particularmente a Marcos Petrillo que organizou o 1º Festival de Rock em JF há 30 anos, e ao guerreiro, jornalista, cineasta, crítico de arte e militante cultural Décio Lopes.

MANIFESTO EVENTUAL DA INVISIBILIDADE INTENCIONAL

(Edson Leão/ Amigos invisíveis)

Fantasticamente invisíveis vamos
Pois que navegar é preciso
Talhar canções no silêncio
Abrir clareiras na voz

Incrivelmente audíveis
Estamos
Entre as mesas dos bares
Flutuando nos ares
Como pessoas de bem são capazes

E mesmo quando nem tanto
Afinal aqui não tem nenhum santo
Apenas humanos tentando
Fazer a vida melhor
Cantando

Dizendo viva nós, viva eu, viva tu
E viva o vôo do urubu
E que esse mundo vá tomar caju
E que esse mundo vá tomar caju...


* Para a Fantástica Banda Invisível  and friends.

RELÓGIOS DE DALI

(Edson Leão)
 
Quando o assunto é arte

Não habito o tempo 

Mas um ponto indefinível 

Entre o aqui 

E a eternidade...

KIT DE SOBREVIVÊNCIA



(Edson Leão)
Na hora de fazer as malas

E partir pra uma trip

Que conquiste terras

E aviste novos mundos

Num ponto, não se arrisque:

Não se esqueça de por na bagagem

Aquele velho livro do Leminski.