sexta-feira, 6 de setembro de 2013

NEM POEMA

(Edson Leão)
Olho a rua
Os postes deixam manchas de luz nas poças
Meninas passam rindo
Seus vestidos não sentem frio
O mendigo
Dança na rua
Movimentos sem alegria
E eu não tenho nada
Nenhuma razão pra estar aqui
Nenhuma canção pra escrever
Posso pegar um táxi
Posso beber um chopp
Mas não tenho nada
Nem prazer, nem dor
Posso explodir prédios
Pichar paredes
Mas não tenho nada
Nem vontade nem dor
Não há porque saltar de pontes
Não há porque matar ninguém
Tenho um movimento inútil
Pés que seguem sem mim
Olhos que filmam a cidade
Como um Ninja
Sem motivos pra gritar
Voz que é só silêncio
Sem palavras
E esse poema estúpido
Que não disse ao que veio
Aparecendo no meio desse filme
Sem enredo
Sem imagens
Apenas um letreiro passando
Sem ninguém para creditar
Sem ninguém para acreditar
Nas mentiras que não quero contar
Mentir pra que?
Pra parecer esperto
Inteligente
Sensível?
Pra que
Pra quem?
São só as poças refletindo a noite
Os vestidos sem frio das meninas
O mendigo e sua dança triste
O taxista que já foi embora
E eu aqui
Sem papel nesse filme
Sem roteiro
Sem texto
Nem poema.
(Edson Leão)

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