quarta-feira, 6 de novembro de 2013

EVOLUÇÃO

(Edson Leão)
Já não fico triste no domingo
Virtudes de ficar mais velho?
Mais sábio?
Mais bobo?
Já não lembro dos motores
Dos carros da Fórmula 1
Soando irritantes
Na TV do vizinho
Quando acordava de bode
Ou de ressaca de vinho.
Até gosto das ruas
E do cheiro de frango
Girando no forno
Enquanto finjo ler
As manchetes na banca
Que definitivamente
Não me interessam num domingo.
Mas como é bom comprar o jornal
Levar para casa
E fingir que vou ler
Algo além da legenda das fotos
E dos títulos do caderno B.
Sinto-me irmanado
Com som do pagode
Que vem com a fumaça do churrasco
O bater de copos de cerveja
Por todas as ruas
De qualquer bairro do caminho.
Bebo um gole no almoço
Às vezes durmo
Quase não reclamo do shopping
Fico até feliz
Quando passo por alguém
Com som do rádio de pilha
Torcendo
E o gol é do Vasco
Já não sinto asco
Das videcassetadas
Das piadas sem graça
Da risada do Sílvio
Do Fantástico
Dos filmes de porradaria...
Do domingo
Sendo enfim
O que sempre foi
O bom, velho e quase imutável
Domingo.
Quem diria!
Um passo para a iluminação
Já não me incomoda o domingo
Quanto à segunda...
Bom...
Isso aí já seria
Em termos espirituais
Quase um estado de Buda
Projeto pra outra encarnação
Quando eu já nascer meditando
De cabeça raspada
E olhos apertados
No Tibet ou no Japão...

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