quarta-feira, 16 de maio de 2012

VÔ E VÓ, E VAIS, E VAMOS

(Edson Leão)

O fumo de rolo
O rapé
A lenha no fogo
O café
O rádio no escuro
O São Jorge
Circundando de luzes
A casa
Uma venda
Uma fenda
Na alma
A saudade é um presente
Que falha
Uma canção caipira
No vento
Sintonizando fantasmas
Do tempo...

terça-feira, 15 de maio de 2012

CALMA

(Edson Leão)

Ah! Se a calma me quisesse acompanhar pela rua
De mãos dadas,  sem desabamentos no peito
Olhando crianças nos parques e os velhos
Jogando migalha aos pardais...

Ah! Se a calma me quisesse acompanhar quase nua
Despudorada de já não se ligar para nada
Sem lenço, sem bolso ou apartamento
Sem carro para o transito engarrafamento...

Ah! Se a calma me quisesse acompanhar quase pura
Mas com a malícia de quem tem tempo pra gozar
Sem culpa, da carne e do espírito
E da cara dos passantes a criticar:
“Afinal que cara é esse pra viver com essa calma?
Não vê que o dinheiro é o tempo e o tempo é o não é?
Não vê que é preciso atropelar, apelar para santos e demônios
Arrancar ouro em pedra da manhã?”

E eu então apertaria a mão da calma
E riria como um hippie a rir da ira
A ir na lira  levar vida no sopro da flauta
Artesanando com tesão o instante
Que de eterno é o que da mão escapa
E o que escapa é o que é vivo
Peixe no rasgo da rede
Verde que foge ao facão
Ave burlando o alçapão
Na calma...



PASSAR...

(Edson Leão)

O que deixo passar
Soprar
Um seixo
Num rio que eu crio
Pra ir para o mar
Aprumar
Qual pipa
Qual beijo
Lançado no ar
Pra quem passar
Por meu passar pelo mundo

Inundo de vida
O vazio que fica
Me divirto com a  lida
De apenas passar...

VATE

(Edson Leão)
O meu olho fechado enxerga o tempo
Estilhaços, capelas e vitrais
Vê na luz da saudade o esquecimento
Lê pirâmide em prédios colossais

O presente é um passado cinzento
Faraós caducando em seus cristais
Suas tumbas pesadas de cimento
Soterrando os seus velhos ancestrais

Cantador sou, das horas de silêncio
De quem dorme pra cedo trabalhar
Bebe o frio, a cachaça, e o vazio,
Pra sonhar que outra sexta vai chegar

Quando a ave noturna espreita o tédio
A rotina já fecha um outro bar
Tanta sala vazia em tanto prédio
Juiz de Fora congela o não mudar

Eu estou, sempre estive e estarei
Na vigília do erro e na canção
Pois meu canto é palhaço e ri do rei
Rima amor com prazer, transformação

Quem não gosta que invente um outro mote
Que eu por mim, bem queria é ver além
Se a tristeza batuca, o santo é forte
Ouve a voz da alegria no que vem...