segunda-feira, 24 de março de 2008

O vôo que escapou entre os dedos


(Edson Leão)

Caminhei sob as nuvens do crepúsculo
Procurei a salvação em antigos ritos
Fui atrás dos passos do anjo que me guiava
Mas estava na minha vez de vaguear pelos caminhos
Entre as galerias do centro de Juiz de Fora
Caminhei sem rumo em meio a pilhas de velhos livros
Sem encontrar o volume que abriria as portas
Aquele da biblioteca antiga
Aquele que tantos procuraram...
Aprendi que eu era igual a todos
Só mais um contemplando a queda
A grandiosidade e a miséria da queda
Como uma grande corredeira de avassaladora pressão
Porque será que algo me lembra James Dean?
Porque, os anjos desgrenhados do rock?
Sem asas, sujos de carvão na fogueira
Sem asas, vagando pelos bairros do subúrbio
Sem asas, amplificando sua angústia ao absurdo
Sem asas, vomitando o sonho nos banheiros de bares sujos
Sem asas, Lennons rubros incendiando o celeiro da paz
Sem asas, mutilando suas vidas como um Vicious transcedental
Sem asas, num disparo Cobain contra as idéias coaguladas
Sem asas, vendo o tempo arrasar suas colheitas
Sem asas, desengonçado como um albatroz no convés
Sem asas, procurando algum trampo na tarde fria e surreal
Sem asas, atravessando a Rio Branco por milhões de noites
Sem asas, engolindo o Calçadão pela milésima vez
Sem asas, se sentindo mais um, ao mergulhar na matilha
Sem asas, procurando o vôo que escapou entre os dedos...

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