sábado, 22 de março de 2008

Nunca transei com a beleza em minha vida


(Lawrence Ferlinghetti)

Nunca transei com a beleza em minha vida
Fiquei me repetindo
suas graças máximas

Nunca transei com a beleza em minha vida
mas quem sabe transei
fiquei me repetindo
a beleza nunca morre
mas fica à parte
entre os aborígenes
da arte
e muito acima
dos campos em que o amor batalha

É bem lá no alto disso tudo
é claro
Senta no mais raro trono
do templo
lá onde os diretores de arte se acham
para escolher as coisas.
dignas de imortalidade

Eles sim transaram com a beleza
a vida inteira
E provaram do orvalhomel
e beberam os vinhos do paraíso
assim eles sabem muito bem como
uma coisa linda é uma jóia
infinda e infinda
e como nunca nunca ainda
vai virar uma máquina
de perder dinheiro
como alguma coisa sem vida

Ah não eu não transei
espaços de beleza como esses
com medo de acordar de noite
com medo de não perceber
algum movimento que a beleza fez

Mesmo assim eu dormi com a beleza
no meu jeito desajeitado
e aprontei mil e umas
com a beleza na minha cama
e assim lá se vai um poema ou dois
e assim lá se vão dois poemas ou um
nesse mundo com cara de Bosch

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