domingo, 19 de janeiro de 2014

URBANO

(Edson Leão)
Hoje acordei pedra
Asfalto espetado na barba
Grafite a navalha na carne
Não senti nada.
Cara de concreto
O espelho, de outdoor
Delatando as vidraças do olho
O acrílico da lágrima
Alma lavada na pia
No Paraibuna
(“Um cavaleiro marginal”)
Saliva de óleo diesel
Língua corroída
Voz de britadeira
No café de amanhã
Sem bom dia
Sem bondes
Não sou Bond, James Bond
Talvez 00 à esquerda
Na placa: “proibido dobrar”...
Fôlego exalando fumaça
Tô urbano
Demasiadamente
Urbano
Sem aeroplanos pro futuro
Nem pro passado
Não há teto para decolagens
Um rolo compressor no presente
O anel que tu me deste
Nessa avenida
Que mandaram ladrilhar
Desabou.
Hoje acordei implosão
Edifícios que caem
Viadutos em vôo
Sobre as capivaras do silencio
Perplexas
Ante as buzinas dos carros.
Sou o arroto de um anjo
Um escarro do diabo
Do confronto
Nasce outra cidade
Em escombros...


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