quinta-feira, 29 de agosto de 2013

O FUNDO E O RASO (quase um conto Zen)

(Edson Leão)
Na pressa
Do ponto de ônibus nosso
Lotado de cada dia
Esbarro num conhecido
Que como outros
Esteve na mesma viagem
Aquela que chamamos juventude
Aquela que vestimos rebeldia
E ele
Um professor de atitude
- “Desses que foi fundo demais”
Alguém diria
- “Daqueles que passou dos limites”
Outro condenaria
- “Dos que ultrapassaram os umbrais”
Outro se benzeria
Outsider
Easy rider
Nas trincheiras dos lupem guerrilheiros auto-exilados
Ou limados
Acossados
Passou por mim como um vulto
E estendeu a mão
Cumprimentou
Sorriu e partiu
Como quem não quisesse durar
Não mais que um gesto
Nem mesmo na retina do sol
Da manhã invernal da avenida
Seguiu como quem mira um alvo
Como quem vira um ponto
A escorregar entre carro
Calçada, prédio e gente
Quase um do rebanho
Quase...
Só um lance de dados
Um I Ching do acaso
Me lançando um Koan
Um nonsense
Um David Lynch não filmado
Que minha mente
Viciada em explicar
Deduzir
Dissecar
Cristalizar
Num insight
Devolveu em razão
E era eu entre tanta gente
Esperando um ônibus que não vem
Que não vai
Que não leva a lugar nenhum
E pensando
Se foi ele quem foi fundo demais
Ou todos nós
Que aceitamos nos afogar no tão raso...?

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