(Edson Leão)
I
O sono me puxa pro outro lado do espelho como um
velho blues dilacerando estrelas, o cheiro boêmio de flores, a voz de whisky no
vinil e um mundo que prossegue lá fora sem mim. Brindo às luzes, a cidade segue
semi-morta, uma Julieta de asfalto até o céu. JF espera por mim. Terá que
esperar muito! Vou apenas dormir. Ela que guarde seu veneno e seu mel. A vida
me espera daqui à pouco, com a luz do sol e o som de pássaros partindo a
vidraça do sono. Por hora me encontrem do outro lado do espelho, onde desfiarei
os versos que à palavra não cabe encontrar. Que eu sonhe como quem veleja
paixões! Bons sonhos a todos também!
II
E então é dia outra vez. Pássaros me cumprimentam
do bosque do Bairu dizendo"mãos à obra"! Sigo seu conselho, não o do
motor dos carros, nem das máquinas que produzem... produzem... ou das
registradoras das lojas que copulam com os caixas eletrônicos de banco gerando
filhos bizarros. Lá fora a construção cívil já batuca ritmos mórbidos sobre os
escombros de nossa humanidade. Escolho os pássaros pois eles cantam, e alguém
nesse mundo deve cantar, mesmo quando escravizado numa plantação, ou atado às
engrenagens do porvir que se tece em fábricas, ou na insanidade de call centers
que premeditam hospícios. Sou desses que cantam por que há gaiolas, mas que
também cantam para que não haja gaiolas. Pelo SIM e pelo NÃO, digo bom dia a
todos!
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