sábado, 25 de setembro de 2010
ANOS 80 – CULTURA E PROCURA
ANOS 80 – CULTURA E PROCURA
(pseudo-memorialismo cultural em flashs)
Loucura e Procura
(Edson Leão)
A cultura
Cambaleia
Entre a loucura
E a procura...
Dessa vida
Ambas perseguem
A cura...
John Lennon
Ficaram marcas de sangue
Na maçaneta da década
Rádio Fluminense, 1982
Subi no telhado
Para sintonizar o rádio
E esbarrei na Maldita.
Num descuido
Me liguei na vida.
Como diria Arnaldo
Do topo da casa
JF espera
Com seu silêncio fumegante
Com seus carros hesitantes
E suas ondas de frio
Arrepiando o sol da tarde.
Cachorros e maritacas
Dão o toque de um rock
“Mas não há ninguém no meu quintal”.
Desejo pop
A química da menina veneno
Não me deixa neurônios pra física
Fim do mundo no olho dus ôto é refresco
(mais uma tarde em 82)
Falam sobre o mundo acabar
Sobre o hálito de mísseis
Roendo a dor das cidades
Falam da alienação
De uma geração
Parida a golpes de farda
Falam dos zeros da nota
Falam do preço da carne
E eu penso no quanto ela é fraca
E se aquela transa ainda rola
Antes dessa merda acabar
Na noite em que Tancredo morreu
(sobre niilistas e anarquia)
Na noite em que Tancredo morreu
O rock parou bem mais cedo
Não deu pra entender o sentido
Pra nós o país que era medo
Já tinha morrido faz tempo
Engajamento
Era procurar algum “ismo”
E tatear escondido
O corpo da revolução
Alienação?
Chegou atrasado ao comício
Restava arrombar a festa
Despir farsas e corpos
Antes da AIDS chegar...
No future
Punks flagelam a placidez da face
Do submerso calçadão da Halfeld
A princesa acorrentada de Minas
Rasga em seu corpo alfinetes
Ateia fogo ao circo
E picha um “A” com gilete
No vestido angelical-debutante
Dançando um pogo no asfalto
Nicoline*
O olho à flor da lente
Arrepia a pele do futuro
O silêncio da foto grita
* Dedicada ao fotografo Humberto Nicole, responsável por alguns dos melhores registros do período.
Psicodelia engajada
Marx tomava chá de trombeta
E via escolas de samba
Entoando a Internacional Comunista
Varal de poesia
A poesia se estica
De um lado a outro da rotina
Desconcertando os passantes
Glauber no Cine Pornô*
Glauber morreu
E a masturbação do São Luiz
Gozou com a Idade da Terra
* Homenagem à mostra de filmes de Glauber Rocha realizada no Cine São Luiz com entrada franca no início dos anos 80.
Terra em Transe
Filósofos de butiquim
Santos psicodélicos
Musas bicho-grilo
Anjos em umbrais
A chave da cidade
Guardada a sete chaves
E os filmes do Carriço
Sendo atirados no rio...
Lanterna dos Afogados II
Pensaram que ia andar sobre as águas
Mais era o chá de trombeta
E a vida sem vez pra milagres
Medicina Natural
“Não se pode abrir os corpos
Sem quebrar a harmonia
Dos órgãos pulsando num todo” -
Voz rouca encharcada em xarope
De um sábio alucinando presságios
Dark
Apelidaram nossa depressão de modismo
Mas era só a vertigem de andar à beira do abismo...
1989
Cazuza não foi à lua
Pedir um chá de ideologia.
Finda a guerra fria
Sonhos queimam
Na fogueira dos 90.
Fim?
O fim é só o descanso do ser
Talvez numa gaveta tudo espere
E a vida possa dançar
Até o dia nascer feliz
Epitáfio (Ou não...)
Fica o dito pelo não dito
O fato é consumado
Tudo está consumido
Foto: Vietnão, por Humberto Nicoline.
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