domingo, 30 de março de 2014

NOTURNO

Deixo a noite esticada lá fora
E tento dormir
Porque recolher a noite?
Subir numa escada
Desatarraxar a lua?
Chamar a polícia
Calar os bichos?
Deito nesse leito de sons e breu
Tessitura de carros
Contracanto de cães
Partitura atonal
Minimal
Aleatória
Animal
Humanimal...
De gritos
Silêncios
Gemidos
E ventos
De grilos
E gozos
Na boca do céu
No beijo do sono
No teto do crânio
Girando estilhaços
De cacos de tempo...
Latejando espasmos
No espaço
“Fronteira final”...
Bons sonhos
Bons ventos
A quem deixa que a noite
Traga sua banda
Pra tocar um rock
E deita a cabeça
Na carne macia
Negra e tranqüila
Tatuada de estrelas
Da Via Láctea...
Os latidos
As sombras
E o frio das flores
Cheiram a ausência
As noites são sempre noites
Voz rouca do tempo
A sussurrar lembranças
Daquela madrugada que não veio
Daquelas que ficaram
Das “quem sabe se virão”...
Da imprecisão do dia rindo
De sapato na mão na calçada
Com os primeiros raios de sol
Que espreitam os pomares do eterno
E a deselegância moderna
Da silueta carrancuda dos prédios...
Beijo a neblina que me enxuga o rosto
O orvalho é uma sonata de Chopin

De bengala, desengonçado, chapéu côco
Conduzo pela manhã
O Chaplin que habita meu corpo...
(Edson Leão)

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