sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

CIDADE

(Edson Leão)

Rua suja
Paredes gastas
Pichadas
Riscos que não dizem nada
Murro surdo
Silêncio concreto
Contorcido aos berros...
Ando com as mãos nos bolsos
Calçado gasto
Poemas na mente
Postes retorcidos
Janelas quebradas na velha escola
Que grito ensinaria a rebelião?
Que anjo Zen de pés no asfalto?

Garotos gingam a malandragem desse tempo sem sentido
B-Boys-passistas-de outro-velho-fim-do-mundo-pressentido
Garotas mandam bem nas curvas sem perder o rebolado
Porta-estandartes-preparadas-pra-dançar-até-o-chão
E a cidade ainda erguida sobre pilhas de edifícios                                     
Estilhaços de canção, velhos sambas esquecidos
Suspensa nas batidas percutidas de algum funk
Lançadas das entranhas, profundezas de automóveis
Guiados por moleques  procurando diversão
De um canto a outro do abandono
Buscando da cidade, o que ela nunca tem pra dar
Entre as galerias-labirinto
E suas pontes projetadas
Pra parir novos abismos
Ela, a “mulher-cidade”
Aquela que não se entrega
Aquela que não se nega
À adiposidade pegajosa
Daqueles que lhe podem comprar
E por bem pouco
A “mulher-cidade” e seu juízo de fora
A ágora sem hora, sem honra para ouvir a prosa
De seus poetas sem posse
De seus profetas sem pose
Sem fotos nas colunas sociais
Invertebradas, inveteradas
 Colunas partidas do templo
Que um Sansão que vendeu seus cabelos
Já não pode derrubar...

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