terça-feira, 15 de maio de 2012

CALMA

(Edson Leão)

Ah! Se a calma me quisesse acompanhar pela rua
De mãos dadas,  sem desabamentos no peito
Olhando crianças nos parques e os velhos
Jogando migalha aos pardais...

Ah! Se a calma me quisesse acompanhar quase nua
Despudorada de já não se ligar para nada
Sem lenço, sem bolso ou apartamento
Sem carro para o transito engarrafamento...

Ah! Se a calma me quisesse acompanhar quase pura
Mas com a malícia de quem tem tempo pra gozar
Sem culpa, da carne e do espírito
E da cara dos passantes a criticar:
“Afinal que cara é esse pra viver com essa calma?
Não vê que o dinheiro é o tempo e o tempo é o não é?
Não vê que é preciso atropelar, apelar para santos e demônios
Arrancar ouro em pedra da manhã?”

E eu então apertaria a mão da calma
E riria como um hippie a rir da ira
A ir na lira  levar vida no sopro da flauta
Artesanando com tesão o instante
Que de eterno é o que da mão escapa
E o que escapa é o que é vivo
Peixe no rasgo da rede
Verde que foge ao facão
Ave burlando o alçapão
Na calma...



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